"Do" - a essência da cultura japonesa

24/12/2012 18:29

"Na sociedade japonesa a Arte não é feita para ver, mas sim para viver e, desta forma, toda ação, mesmo a mais cotidiana e banal, é permeada de um profundo senso estético, de muito refinamento, elegância e sofisticação. Exatamente por isso o fio condutor proposto extrapola a classificação da arte ociental: artes plásticas (pintura, desenho, gravura, escultura), música, teatro, cinema, dança...

Na essência do pensamento japonês estão duas características: a noção da impermanência e a busca da perfeição. Esta prática de fazer sempre o melhor é chamada de "Do" (caminho). A união destes dois aspectos criou uma cultura na qual uma grande capacidade de adaptação é aliada a uma intensa preservação de costumes; o resultado é uma cultura moderníssima e atemporal na qual a tecnologia de ponta convive com a tradição."

O comprometimento da cultura japonesa com a noção do "Do" e o alcance espiritual que pode se manifestar em diversas práticas, desde a Ikebana (caminho das flores), o Chado (caminho do chá), o Shodo (caminho da escrita), até os caminhos marciais, em que por meio do treino físico se almeja alcançar o aperfeiçoamento não meramente muscular, mas principalmente melhorar a moral e a espiritualidade. 

A noção da impermanência, do perfeccionismo e da Arte não para ser vista, mas sim vivida são arraigados nas Artes Marciais japonesas. Em termos simples, como exemplo:

impermanência é o que o adversário lhe traz de surpresa, a inconstância de um combate, o minuto em que se vence ou que se pode perder, a dualidade.

O perfeccionismo é o treino repetitivo até se tornar eficiente, até surgir o refinamento invisível ao leigo, até a técnica ser incorporada e se tornar instintiva.

A Arte para ser vivida é quando o aluno não pratica apenas no seu Dojo ("local da iluminação", local de treino), o praticante não tem moral e ética ilibada apenas ali naquele ambiente, mas sim em todos os campos da sua vida; leva consigo, para onde for: honra, disciplina, respeito, espírito inabalável, tranquilidade, perseverança e a tudo que se compromete fazer, faz como a Arte para ser vivida e não apenas para ser vista, todas suas atitudes são realizadas da melhor maneira possível. 

(Excerto do Projeto da Exposição de Comemoração do Centenário de Imigração japonesa no Brasil, 2008. Com adaptações)