O Conto do Gato do Saco

05/10/2011 09:49

Num antigo templo, o professor mais velho orientava a prática de meditação todos os dias, ao final da tarde. 

Num certo dia a meditação seria especial, pois seria a última que o mestre faria com aquele grupo, pois havia decidido partir para uma peregrinação nas montanhas.

Ao se acomodar para dar início a meditação, o mestre sentiu-se interrompido pelo miado triste de um gato que rondava a área. 

O mestre olhou para seus alunos e pediu para o mais graduado deles se aproximar. Falou de maneira a ser ouvido somente pelo rapaz:

"Procure o gato, coloque dentro de um saco e leve ele para a árvore mais distante do nosso templo.

Deixe-o amarrado lá até que terminemos a meditação, depois solte-o."

O discípulo atendeu prontamente ao pedido do professor, recolheu o gato, colocou-o dentro de um saco, amarrou na árvore mais distante e voltou para poder meditar. 

No dia seguinte, o mestre se despediu e saiu para sua nova empreitada, deixando para trás o grupo de alunos. 

Após quase uma década, o professor retornou e foi saudado pelos seus antigos alunos e por novos discípulos. Fez uma verdadeira festa no templo com a visita do mestre tão querido e, para confraternizar, pediram que ele orientasse uma das meditações. O mestre, muito satisfeito com o convite, se acomodou no antigo lugar que havia deixado há anos e quando foi iniciar o ritual, um dos alunos o parou:

"Mestre, só um instante... foram buscar o gato para prender na árvore!"

O mestre estranhou o pedido:

"Gato?"

O discípulo, afoito, comentou:

"Sim, precisamos de um gato dentro do saco, preso numa árvore para dar início a meditação, é o ritual..."

O mestre negou com um gesto simples de balançar a cabeça, como uma reprovação, levantou-se e silenciosamente partiu de novo para as montanhas.

 

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Breve Comentário: As Artes Marciais estão no limite bem sutil entre o real e o mágico. Muita gente confere as Artes Marciais, ou mesmo aos praticantes, elementos místicos e misteriosos, mas que na verdade tem uma explicação muito mais simples, real e objetiva do que possa se esperar. Além disso, alguns costumes são transmitidos sem ser explicados e algumas vezes são feitos de forma mal compreendida. A grande mágica está em fazer o que é simples ser fantástico, sem perder sua simplicidade e sua veracidade.