Uke-Nage, irmãos de marcialidade

29/04/2011 09:35

                Durante os treinos você sempre conta com um colega para que possa executar as técnicas e ele também conta com você para o mesmo. Essa parceria se forma naturalmente, mesmo que sejam pessoas desconhecidas, cada uma delas se doa um pouco para que o treinamento possa evoluir e todos possam praticar.

                Essa relação de quem executa a técnica e quem recebe a técnica é chamada de uke-nage. E é por meio do treino em dupla que é possível perceber as diferenças e sutilezas da aplicabilidade técnica em diferentes pessoas, porém mais que isso, firma uma relação de coleguismo e de auxílio mútuo.

                Para que haja treino dois a dois é preciso que tanto uke quanto nage tenham em mente a preservação de seu colega, pois ao machucá-lo, por mais que se acredite que está sendo “eficiente”, no final das contas estará se auto-sabotando, uma vez que o colega machucado fica impossibilitado de continuar o treino. Isso diminui o número de praticantes dentro do tatame e reduz a possibilidades de prática.

Saber treinar corretamente, sem machucar seu próximo e sem se machucar é essencial para que a prática tenha uma continuidade e que desenvolva a sensibilidade técnica do “limite” de cada um. O bom praticante, executando um bom treino, sabe o quanto de força e  velocidade utilizar com cada uke e, assim, demonstra e executa sua consciência técnica.  

Num Dojo pequeno, as relações uke-nage tornam-se muito mais do que parceria para treino. A convivência periódica por meses, anos e até mesmo décadas forma um grupo que se reconhece como amigos e mesmo como uma família.

Muitas colegas de treino vem e vão,  essas idas e vindas, num Dojo, algumas vezes abate quem fica, pois esse perde seu companheiro de treino, mais que isso, perde a presença de um amigo. Contudo, aqueles que ficam reforçam os laços e tratam-se como irmãos marciais.

Além da relação uke-nage, a relação entre mestre e discípulo também se estabelece durante o passar do tempo e a contínua convivência. É por isso que para os orientais, essa relação é praticamente reconhecida como de pai-filho, pois trata-se de uma parceria por anos, diferente de uma escola, em que o professor tem contato com seu aluno, no máximo por um ano.

Essas interações todas e relações semelhantes a família não surgem logo no início de um caminho marcial, por mais que muitas escolas preguem isso.  Dessa forma, só sabe reconhecer o sentimento familiar quem se mantem numa escola por um certo tempo e esse mesmo percebe que as relações se transformam e se estabelecem de forma natural e lenta, dando forma a união e ao sentimento de respeito às qualidades e falhas de cada um. É por isso os alunos mais antigos começam a ser tratados como discípulos e os yudansha se tornam o núcleo duro da família, aqueles que manterão entre si suas parcerias e que estimularão entre os novos a permanência na Arte Marcial.